quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Homenagem ao Poeta Moraes em seu 49º aniversário

Estive ontem à noite no Ponto de Cultura Bola de Meia. Para comemorar o Dia do Poeta e o seu aniversário, o Poeta Moraes falou sobre o papel do poeta na sociedade, fez uma homenagem a velhos poetas joseenses, como Hélio Pinto Ferreira, e declamou alguns poemas. Foi uma experiência nostálgica para mim porque, há mais ou menos 20 anos, fui aluno do Poeta Moraes no colégio...


Ouvi-lo declamar é diferente do que conhecê-lo através da leitura. No papel (ou melhor, nos panfletos) ele utiliza recursos concretistas, em especial os parênteses, para assinalar, enfatizar, dar duplo sentido a uma frase e jogar com a semântica das palavras. É nisso que reside a estética moraeseana: ao obrigar o leitor a decifrar os seus poemas (que normalmente são muito curtos) ele o arremessa no inferno (o inferno mundano, o inferno do consumismo exacerbado, o inferno dos rios pútridos...) e depois o traz de volta. De volta aonde? Ao terreno seguro da poesia. Declamando, porém, destituído de tais recursos, ele utiliza expressões faciais e entonações de voz (ontem ele chegou a produzir efeitos sonoros soprando no microfone)... No livro O Encontro Mágico do Pólen, o poeta joseense Reginaldo Gomes diz: “Quando leio Paulo Leminski, / Rimo. / Quando leio Fabrício Carpinejar, / Dissolvo. / Quando leio Poeta Moraes, / Atino. [...] (Herança)”. Para outro escritor de São José dos Campos, Fernando Scarpel, o poeta Moraes “viu e viveu a transformação da cidade e não se conformou com isso.” A poesia do Moraes é avassaladora, cáustica, inquietante; em determinado ponto das declamações achei que ele se jogaria no chão e se prostraria como o Homem Caído de Lehmbruck. Bem-humorado, o próprio Moraes disse: “você não pode dar um poema moraeseano para a sua namorada...” Mas eu daria sim. Daria porque é boa poesia, daria porque é literatura de alto nível. A internet está cheia de pseudo-poetas que nunca leram João Cabral, Neruda ou Blake; as pessoas têm uma ideia errada do que é poesia; acham que poesia é dizer coisas bonitas. Versos bonitos e criativos podem nascer da ingenuidade dessas cabeças, sim (isso acontece frequentemente), mas, sem referências, sem leitura, os jovens não conseguem ir além, não conseguem enxergar o sentido mais amplo da poesia. No último domingo tive a satisfação de conhecer Tonho França, um poeta genuíno, e ele me dizia exatamente isso: os jovens estão fazendo poesia sem absorver o conhecimento e a técnica de poetas maduros... “A poesia é 99% transpiração e 1% inspiração” foi uma das coisas que o Poeta Moraes disse ontem. Ao longo da minha vida, tive muitos professores e alguns mestres... Parabéns Moraes e parabéns a todo o pessoal do Bola de Meia pelo ótimo trabalho.

5 comentários:

  1. Como é o nome completo desse poeta Moraes?

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  2. Pablo, agradeço pela sua presença no evento. Certamente a sua leitura da poesia está em consonância com a minha. É uma arte altamente sofisticada, complexa e subversiva. Daí, o receio que o sistema tem de divulgá-la. Entretanto, o poeta resiste e insiste sobreviver e subviver esta era futuricida. Um grande abraço, Moraes & Luci
    O nome completo desse poeta Moraes é: José Moraes Barbosa

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  3. Pablo, parabéns pelo texto, bom saber que tem "gente nova" entre nós, vc absorveu com muita sutileza a noite poética passada, é maravilhoso poder contar com escrtores desse nível entre nós.

    Abração de poema e paz!!

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  4. Meu caríssimo amigo, acho que qquer manifestação poética sincera ja tem muito valor. Vc não tem que ler João Cabral para ser poeta. Abração e continue escrevendo!

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