domingo, 3 de outubro de 2010

Eu não quero votar

São 9h16 da manhã. Acabo de retornar da padaria. Nas ruas e nas avenidas há um movimento de pessoas diferente do usual: são os eleitores que marcham rumo às urnas, mais ou menos cientes de que Dilma Rousseff já é a vencedora. Vinte anos atrás, Sílvio Santos era candidato a presidente e só não ganhou porque foi impugnado pelo Tribunal Superior Eleitoral, algo emblemático para um país cujo governo se livrava do pulso firme dos ditadores e caía no ardoroso colo das figuras populares. Agora já são 9h25. Estive andando em círculos no interior do meu apartamento. Não sei em que horário vou votar. Pior do que isso: não sei EM QUEM vou votar.


Pessoalmente, acho que o maior sinal de amadurecimento da nossa democracia será a instalação do voto facultativo. Somente assim o nosso “direito de votar” vai ser, de fato, um direito, e não um dever. 9h29. Pensando bem, se o voto não for obrigatório, quem ganhará com isso? Justamente: os candidatos populares, ex-jogadores de futebol, artistas, sicofantas... 9h34. Uma sucessão petista ou uma sucessão tucana, aí estão dois cenários totalmente diferentes. Bem, a verdade é que José Serra não tem a menor chance, mas vamos imaginar que a disputa estivesse equilibrada e que eu, com o meu voto, pudesse colocar Dilma ou Serra na presidência. Em quem eu votaria? Dilma ou Serra? Hmm... 9h49. Eu votaria na Marina, não porque acredite na Marina, mas porque acredito na Lei de Murphy. 9h53. Sócrates não confiava na voz do povo... 10h12. A democracia é uma dupla ilusão. Primeiro porque não existe e, segundo, porque, se existisse, não funcionaria. E ainda assim essa pseudo-democracia é a melhor forma de governo porque, com ela, ficamos em algum ponto intermediário entre a ingenuidade das maiorias e a corrupção das minorias. 10h18. Já decidi. Não vou votar em ninguém. Já me abstive em outra ocasião. O TRE me deu uma cicuta de três ou quatro reais.

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