terça-feira, 26 de abril de 2011

Retrospectiva da Bienal do Livro de São José dos Campos de 2011


Entre os dias 8 e 17 de Abril de 2011, milhares de pessoas foram ao Pavilhão Gaivotas, no Parque da Cidade, a fim de prestigiar a nossa feira de livros. Eu estive lá todos os dias. Conheci muita gente bacana, encontrei vários amigos, comprei uma porção de livros interessantes, vendi alguns dos meus, recebi conselhos valiosos da Regina Drummond, escutei ótimas palestras no espaço Papo de Autor, participei de um agradável bate-papo com os escritores do Grupo Novas Letras, enfim, vivi dias memoráveis que foram um grande estímulo para os meus projetos literários. O evento não foi perfeito, com certeza há muito o que corrigir e aperfeiçoar para a próxima edição, mas o saldo final me pareceu altamente positivo.














1ª ou 2ª Bienal de SJC?

A Bienal do Livro de São José dos Campos foi instituída mediante uma lei municipal de 2002. A primeira experiência aconteceu nesse mesmo ano, também no Parque da Cidade, mas ela perdeu a característica de bienal porque não teve continuidade dois anos depois, ou seja, em 2004. Esperemos que desta vez a nossa feira se consolide e São José dos Campos entre definitivamente para o mapa dos eventos literários.

Estrutura e organização

Como falei no começo, a feira não foi perfeita. Houve problemas sérios, principalmente na praça de alimentação, que era pequena, tinha poucas mesas, a limpeza era demorada e, o pior de tudo, uma das lanchonetes foi desabilitada e substituída por outra no decorrer do evento. Outro problema foram os banheiros, que eram pequenos. O público estava sendo direcionado às cabines de sanitários químicos que estavam do lado de fora do pavilhão, o que não fica nada bem numa feira de livros. A maior queixa do público, contudo, foi o calor. Ouvi comentários de que a nossa Bienal era uma estufa, exceto nos auditórios, onde havia ar-condicionado. Sou totalmente a favor de que a feira continue a ser realizada no Parque da Cidade. A beleza do parque deu uma cara singular ao evento, sobretudo pela realização dos passeios monitorados (uma excelente ideia!) Mas o Pavilhão Gaivotas precisa de adaptações.

Imprensa

O trabalho da imprensa local durante a feira foi decepcionante. A divulgação foi muito boa. A cidade inteira ficou sabendo da nossa Bienal, cartazes e panfletos foram espalhados por todas as partes, houve propaganda na tevê e na rádio, mas a cobertura do evento foi fraca, redundante e pouco criativa. Os jornalistas passavam muito rápido pelo pavilhão; em geral, já chegavam com uma pauta pré-definida e evitavam o diálogo direto com os escritores. Esse problema, no entanto, acontece em todos os lugares. Conversei sobre isso com muitos autores de fora e todos se queixaram bastante da chamada “grande imprensa”. Hoje em dia, quase tudo é feito por intermédio dos assessores de imprensa, ou seja, por profissionais especializados em marketing que são pagos para colocar produtos e nomes específicos em evidência. Para a próxima edição, acho fundamental que a comunidade literária se mobilize para cobrar da mídia uma cobertura decente, que esteja de acordo com a importância do evento. 

Autores da região

O principal aspecto da feira, para mim, foi a oportunidade de discutir e trocar ideias com escritores, editores, livreiros, blogueiros e leitores. Ao longo dos 10 dias da Bienal, encontrei-me com vários colegas como Reginaldo Gomes, Zenilda Lua, Luke Edward, Rita Elisa Seda, Leandro Reis, Poeta Moraes, Rogério Rodrigues, Wilson Gorj, Tonho França e outros. Também tive a alegria de conhecer pessoalmente autores da região que eu só conhecia pela internet, como Daniel Pedrosa, Valentine Cirano, Georgette Silen, João Nicolau, Alberto Simões, Daniela Peneluppi, Léo Mandi, Joka Faria, Carlos Santos e outros. Além disso, conheci o trabalho de outros autores como Roberto Coelho, Maria Alessi, Bruna Cleto de Araújo Ferreira, Thiago Tendeiro Garcia Silva, Juliana Nunes Veloso e Luciano Vieira. Enfim, são muitos nomes. A FCCR está de parabéns pelo espaço concedido à literatura joseense, que é tão rica e diversificada.

Papo de Autor & Considerações Gerais

A nota triste da nossa Bienal foi, sem dúvida, a ausência de Moacyr Scliar, o grande escritor gaúcho que já tinha confirmado a sua participação em nossa feira, mas faleceu no finalzinho de Fevereiro, em decorrência de um AVC. O Moacyr era insubstituível, mas todos os autores que passaram por aqui contribuíram muito para o sucesso do evento, em especial a Regina Drummond, que esteve conosco todos os dias e com certeza plantou muitas sementinhas em seu auditório especial, o Espaço Regina Drummond, destinado à criançada. Para mim, foi uma grande satisfação conhecê-la. Fique indescritivelmente feliz quando ela me disse que leu o meu livreto com o primeiro capítulo de O Banhado e elogiou o meu estilo... Uau! Olhem só para mim! No Espaço Papo de Autor, o Professor Pasquale, o pessoal do Casseta e Planeta, Paulo Markun e o nosso Carlos Abranches foram os campeões de público, mas, para mim, a palestra mais interessante (das que eu assisti) foi a de Menalton Braff, que é um escritor excepcional. No último dia, participei de um descontraído bate-papo com Fernanda França, Tammy Luciano, Leila Rego e Enderson Rafael, do Projeto Novas Letras, um movimento pioneiro de novos autores que vem conquistando o apreço de centenas de leitores em todo o Brasil. Walter Tierno, Alba Milena e Leandro Schulai, da Revista Fantástica, também passaram pelo Papo de Autor no último dia, juntamente com o Leandro Reis. Acho que os jovens leitores se identificam muito com a linguagem desse pessoal. Eles fazem vídeos, podcasts, transmitem eventos via twitcam... A Tammy, do Novas Letras, por exemplo, tem um quadro engraçadíssimo chamado Crônica Falada. O Leandro Schulai, da Revista Fantástica, autor de O Vale dos Anjos, tem uma série de documentários chamada Na Mira dos Livros. A Alba Milena tem um blog literário com mais de três mil seguidores, o Psychobooks, no qual ela também faz vídeos. Enfim, a presença desses grupos me pareceu altamente relevante para o principal propósito da nossa feira: a formação de novos leitores.


12 comentários:

  1. Pablo, concordo com quase tudo que você escreveu. Fiquei muito decepcionado com a cobertura da mídia regional. Vários veículos noticiaram o fechamento dessa lanchonete e os livros impróprios para crianças, mas poucos deram espaço aos autores locais, por exemplo.

    A excelente iniciativa da prefeitura de SJC de oferecer aos alunos da rede municipal o Cheque-Livro também merecia ter tido algum espaço na mídia... (nesse site é possível ler mais um pouco sobre isso... http://bienaldolivro.wordpress.com/).

    No geral realmente o evento foi ótimo e reuniu grandes autores do Vale e do Brasil. A prefeitura e os organizadores estão mesmo de parabéns, embora muita coisa possa ser aprimorada para a próxima edição.

    ResponderExcluir
  2. Pois é, Marcelo... A literatura não é feita apenas de escritores, editores e livreiros, mas também de divulgadores, críticos, incentivadores e, acima de tudo, leitores. O papel da imprensa é fundamental. E acho que a comunidade literária deve cobrar os meios de imprensa nesse sentido, sobretudo os que eram parceiros do evento.

    ResponderExcluir
  3. Os primeiros passos são sempre os mais difíceis, os mais complicados e os que as pessoas apontam mais erros. Mesmo na 50ª Bienal do Livro de São José dos Campos haverá alguma coisa para reclamar. É hora de unir forças, de darmos as mãos e caminhar. Somos como formiguinhas, cada uma faz sua parte e todas seremos alegres. Vi que você Pablo participou de tudo, foi uma bençao sua presença marcante nos debates, sessão de autógrafos, conversas com os leitores e garimpagem literária, sempre com um sorriso e atenção. Fiquei feliz por você ser um joseense tão disciplinado em literatura... na verdade um amante das letras.
    Felicidades e a paz!

    ResponderExcluir
  4. Meus agradecimentos vão para o vereador que apresentou a lei em 2002, e que não exigiu sua continuidade, por interesses políticos. Depois quero agradecer o ex-prefeito Emanuel Fernandes por ter realizado a 1ª Bienal do Livro, naquele ano, e ao prefeito Eduardo Cury, por realizar essa 2ª edição somente agora 2011. Não posso deixar de mencionar o empenho da diretoria da FCCR em não participar desse evento, antes dele ser assumido pelo Sec. Municipal de Educação. Seria importante dizer que essa Bienal não aconteceria se não fosse minha insistência para que a prefeitura realiza-se tal evento? Não me esquerei disso, assim como minha filha também não, mesmo ela estudando na rede estadual de ensino! Por fim, quero agradecer e parabenizar os escritores de SJCampos, já citado por você.
    A Bienal só não acontecerá em 2013, caso eu esteja morto e nenhum escritor ou munícipe dessa cidade exerça sua cidadania!

    ResponderExcluir
  5. Ótima matéria! Fica a expectativa para 2013!

    ResponderExcluir
  6. Pablo, muito bacana seu post! São José dos Campos tem que ter orgulho de ter um cara tão talentoso na sua cidade.
    Falei de você no post do meu BLOG de hoje: www.tammyluciano.com.br
    Obrigada mais uma vez!
    Bjinhos. Tammy
    www.tammyluciano.com.br
    @tammyluciano

    ResponderExcluir
  7. Pablo,eu me senti muito lisonjeado por ser mencionado no seu artigo sobre a Bienal. Você fez uma matéria, a meu ver, melhor do que muitas feitas por jornalistas formados da grande cadeia da imprensa local. Parabéns!A Bienal foi foi mesmo um sucesso. Concordo com você sobre ela acontecer sempre no Parque da Cidade. Creio que não há lugar mais bonito e mais propício, pois a imagem mais emocionante que vi desta feira foi que, por causa do calor, muitas crianças e jovens se refugiavam para debaixo de uma árvore para ler o livro adquirido no evento. Sempre acreditei que natureza e literatura tem tudo a ver. A questão dos condicionadores de ar, são detalhes perfeitamente possíveis. Já transferirem a Bienal para o Parque Tecnológico, além de elitizar muito o evento, creio que afastaria muito mais o público, pelo difícil acesso, do que as tardes quentes desta edição. Um forte abraço e até breve no lançamento dos meus livros "Fases" e "Pérolas".

    ResponderExcluir
  8. Pablo, tudo bom?
    Gostei muito do seu post, como disse o Carlos anteriormente, muito mais abrangente dos que os lidos na imprensa grande.
    Sinto não ter conseguido ir ao Papo de autor ao qual esteve presente, mas gostei de vê-lo durante o evento no dia em que estive lá.
    Fiquei impressonado com a quantidade de público no evento, superando, e muito, o que eu imaginava que veria por lá. São José está realmente de parabéns.
    No mais, achei espetacular a sua iniciativa de lançar O Banhado da maneira como fez... Já aguardo o restante do livro pra devorá-lo.
    Abraço

    ResponderExcluir
  9. Para mim, a bienal foi interessante como encontro de autores regionais. Espero que a próxima dirija um enfoque maior a este ponto e abra o leque para autores de outras cidades, valorizando a literatura valeparaibana como um todo.

    Parabéns aos incentivadores da bienal e aos escritores joseenses pela ação conjunta.
    ________________________________________

    Pablo,

    Eu e o Tonho iremos ao Rio nos dias 07 e 08 de maio para participar de uma reunião na sede da editora Multifoco. Ao voltarmos de lá, entraremos em contato contigo para dar seguimento aquele projeto do qual falamos na bienal.

    Abraços.
    W. Gorj

    ResponderExcluir
  10. .

    Como disse a Rita, sempre haverá algo para ser apontado e isso é bom - sinal que muita gente prestou atenção e participou.
    Cada biênio será melhor, tenho certeza disso.
    Espero que não vire ambiente mais político que o necessário, apenas isso.

    Abraços.

    .

    ResponderExcluir
  11. Rita, a Bienal era um parque de diversões para mim! Concordo com você: precisamos trabalhar como formiguinhas. Juntos com certeza escreveremos um belo capítulo na história da literatura joseense!

    Julio, os aspectos políticos que envolvem um evento desse porte são tão intrincados que a gente nem sabe direito a quem agradecer. Pesquisando sobre a edição de 2002, no google, encontrei uma matéria do jornal O VALE que menciona a sua inquietação com o não-cumprimento da lei e a carta que você escreveu para a FCCR. É claro que o principal propósito da Bienal deve ser o de promover o desenvolvimento cultural da sociedade como um todo, despertando o interesse pela leitura nos jovens, mas, para os escritores joseenses, a Bienal foi um verdadeiro presente, um incentivo muito necessário, já que o nosso trabalho é tão pouco valorizado. Por isso, por aquela carta que você escreveu, pela sua insistência: obrigado!

    Tammy, eu estou trabalhando muito porque me inspiro no Novas Letras. O que vocês estão fazendo é uma revolução!

    Carlos José, crianças se refugiando nas sombras do parque com os seus livrinhos recém-adquiridos, esse é o tipo de imagem que forma o olhar do poeta... Fases e Pérolas já têm espaço reservado na minha estante!

    $R(???), o público foi impressionante mesmo...

    Wilson G., acho que é tudo uma questão de organização. São José dos Campos só tem a ganhar com a participação dos autores das outras cidades do Vale. Desde já manifesto o meu apoio para que isso aconteça em 2013! Me mantenha informado sobre o projeto que vocês me apresentaram.

    Wilson R., acho que no entorno da Bienal houve bastante política, o que era inevitável, considerando o custo do evento, mas o ambiente da feira em si me pareceu altamente favorável para as atividades artísticas e culturais. E também acho que a cada biênio ela será melhor!

    ResponderExcluir
  12. Pablo meu querido,

    Parabéns pelo sucesso, estamos todos muito orgulhosos de você!!!

    Forte Abraço,

    Júlio Sansoni.

    ResponderExcluir